O
VÍCIO QUE AFETA O CÉREBRO
Artigo de Jair Donato
Vejo uma confusão quando alguém
afirma que o mundo virtual faz com que o relacionamento humano se torne mais
frio. Muitos defendem que as pessoas estão cada vez mais isoladas devido à
conectividade com o mundo nesta era pós-advento das redes sociais. Será mesmo? Ou,
isso é uma questão de educação? Quantas pessoas perdem a disciplina e até o
controle sobre si em função do uso do dispositivo eletrônico? Quantos mais usam
isso como subterfúgio para esconderem-se de enfrentamentos às próprias
dificuldades?
Existem muitas pessoas que se
aproximam, uns se reencontram, outros fortalecem amizades, enquanto tantos se
casam, conseguem empregos, vendem serviços ou criam novas oportunidades saudáveis.
Será mesmo a Internet uma condução negativa? É fato que muita gente mudou o
hábito e acessa os dispositivos móveis, por vezes exageradamente. E são
usuários de quase todas as idades, já que hoje esse é um meio comum para a
maioria. Todavia, o que é importante avaliar é o impacto, não da tecnologia,
mas dos hábitos e das atitudes das pessoas frente ao uso dela, geralmente sem
controle. É essa desmedida que pode gerar diversos transtornos no
comportamento. Isso é o que pode diminuir produtividade ou prejudicar
relacionamentos, a falta de educação do cérebro.
Quero
aqui fazer um alerta propício aos pais e educadores. Estudos recentes da
neurociência, a ciência do sistema nervoso, evidenciam que não é somente o
vício por jogos de azar, álcool, crack e demais substancias psicoativas que
causa dependência. É uma realidade que hoje, adultos e crianças se tornam
dependentes do uso do celular, por exemplo. Esses estudos mostram que devido o
uso contínuo desse dispositivo eletrônico, o cérebro libera produção constante
de dopamina no organismo. A comprovação de que isso causa dependência está no
fato do cérebro liberar altas doses de dopamina, que é uma substância saudável, mas que em excesso provoca ansiedade,
insônia e depressão, daí o que gera o vício de consultar o celular cada vez
mais, sem foco e necessidade. Pensa no risco exposto às crianças, pois essa é uma
dependência neuroquímica, mesmo sem ingestão de substâncias e que trás sérios
riscos ao indivíduo. Gostaria que todos repensassem melhor sobre a noção de
limites que dão a si mesmos e aos educandos. Quem educa não deve perder o foco
sobre o que é causa, sem ficar mirando no efeito.
É incalculável o valor dos
benefícios que o desenvolvimento tecnológico trouxe para o mundo, em todas as
áreas da ciência e do saber. Contudo, se as pessoas se afastam nesse contexto,
ou parecerem “frias” devido ao vício, é a falta da capacidade de se adequarem a
esse novo estilo de vida, em que o mundo perde paredes e fronteiras e onde tudo
se torna interligado. Prejudicial é a falta de equilíbrio do indivíduo e o
despreparo para lidar com a tecnologia de maneira coerente, e não o contrário. Isso
pode chegar ao ponto em que ele precise de ajuda, necessidade que nem sempre
partirá da própria consciência. Esse é o alerta.
É natural que as mudanças ocorram.
Mas, o que se torna antinatural é a falta de adaptação aos novos ritmos. Não há
que culpar o avanço tecnológico, e sim superficialidade a que se propõe ao
lidar com essa irrefutável mudança, que não deixará de existir porque no
passado era diferente. É o adulto que precisa se reeducar para lidar melhor com
essa realidade. Quanto às crianças isso não é nenhum problema, o que elas
precisam é de limites bem definidos e orientação sobre o que é equilíbrio e
adequação.
O foco deve ser na conduta do
cérebro, o que é uma característica interna, e não na tecnologia ou nos
dispositivos, que são periféricos e perecíveis. Vale a velha dica do cuidado ao comer doce para
não se lambuzar. Quanto ao doce, se suja a roupa ou o corpo, água resolve. Já o
perigo do uso excessivo dos dispositivos é a dependência química gerada no
cérebro, que gera improdutividade e transtornos graves. E para o vício, será
preciso mais que água, e sim tratamento. O jeito é se adaptar e reeducar o composto
cérebro-mente-comportamento.
Jair
Donato - Jornalista em Cuiabá, escritor, consultor de desenvolvimento de pessoas,
professor universitário, escritor, especialista em Gestão de Pessoas e Qualidade
de Vida. E-mail: jair@domNato.com.br